domingo, 16 de novembro de 2014

manhã de domingo

Ela pôs os pés para fora da cama pouco acreditando em tudo que houve, se é que houve, ontem. Olhos claros de sol e de ressaca. A cabeça mais extrema que um vulcão em erupção, mais pelo assolar dos enfadonhos acontecimentos que pelos chopps a mais que acabou tomando para tentar encontrar o botão de desligue do cérebro. Tentando caminhar até a cozinha, percebeu quanto queria se mudar daqueles cômodos, que já estava mesmo enjoada de morar por aquelas paredes encardidas e lotadas de infiltração. Alcançou a cozinha e o interfone, pediu ao porteiro que colocasse o jornal no elevador, precisava olhar os classificados sem mais demora, mesmo sendo domingo. Tudo parecia tão urgente quanto aquele amontoado de louça para lavar desde quarta-feira. Pressentiu o elevador no quinto andar e se preparou para encarar o abrir de portas, torcendo para o vizinho do sétimo não estar lá impregnado com seu jornal na mão dizendo 'não se esqueça de fazer aos cruzadas e olhar o horóscopo, são as melhores partes dos jornais de domingo'. Mais um motivo para se mudar, como se não bastassem os básicos que já havia listado mentalmente em menos de cinco minutos. Precisava se mudar, e agora era mantra que ecoava em sua cabeça que ainda latejava pelos excessos emocionais e alcoólicos da noite anterior. Precisava se mudar, mas sabia que, depois do almoço, a dispersão seria tamanha que já teria esquecido o quanto a irritava o fato do vizinho ao lado não fechar as janelas da área de serviço à noite, mesmo sabendo que era exatamente aquilo que o deixava sempre tão resfriado e tossindo por toda a noite, sem cessar.

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