sábado, 12 de dezembro de 2009

Ih! Tietei.



Sinceramente, eu não gosto de ir a um show e ficar lá na frente, grudada no palco, cheirando o pé do cantor. Acho meio patético, desnecessário, parece que confere ao artista um status de rei, ou santidade. Não vejo isso como uma forma saudável de encararmos a música, os compositores e os intérpretes. Cada qual tem sua sobressalência, o que torna um diferente do outro, e o que difere uma pessoa que se dedica à música de outra pessoa que se dedica a estudar direito é a questão da opção e identificação. O que nunca gerou (ou pelo menos não deveria gerar) uma hierarquia ou qualquer segregação. Mas é foda a mídia, coloca o artista, ele querendo ou não, num patamar elevado e intocável. E você acaba assistindo ao espetáculo por uma pessoa que poderia ser você se não fosse a tal da opção, sem falar na tal da identificação.
Acredito que somos o que queremos ser, bem naquele estilo Engenheiros do Hawai mesmo. Eu acredito que nasci sensível pelas artes, belas artes e/ou boas artes. Tento dedicar minha vida cada dia mais a isso. Bem, faço Letras, pesquiso na área de literatura, especificamente Literatura Brasileira Contemporânea. E como não ler músicas como ler um romance? É esse o meu experimento, isso que faço diariamente. Bandas novas, músicas novas, melodias novas, letras novas. Tudo isso compõe o meu dia-a-dia, vivo numa eterna busca pelo novo-musical.
Numa dessas empreitadas, me deparo com a bela Roberta Sá. Já a conhecia do programa "FAMA", mas sem dúvidas olhá-la pela vertente do samba deixa-a bem mais fascinante. Ouvia todas as músicas, todos os dias, cantava a todo momento. E como é bom quando achamos algo que soa realmente bom aos ouvidos, não é mesmo? Com ela foi assim, paixão à primeira nota.
Ontem, teve o primeiro show de Roberta Sá aqui em Vitória-ES. Acordei numa quinta-feira estranha, tempo um tanto nublado, eu atrasada para o trabalho, e antes ainda tinha que passar para fazer o exame admissional. Tudo conspirou para que eu ficasse cansada, desanimada e desiludida. Primeiro, a enfermeira acaba com meu braço para tirar sangue, chego mais atrasada ainda na empresa, tudo vai saindo errado, não dou conta do serviço todo. Mas ai aparece Mariana (uma amiga, íntima!) e me salva da peleguice: "vamos, Carol, você toma um banho lá em casa, comemos um miojo e vamos direto pro Porto". Qual era a festa? Reinauguração do projeto "Estação Porto" que rola em um dos Armazéns do Porto de Vitória. Chegamos lá um tanto atrasadas, mas os portões nem aberto estavam. Vale ressaltar que a entrada era franca. E por ali foi se esvaindo toda a expectativa de ouví-la cantar, vê-la interpretar suas lindas canções. Precisava ir embora cedo, estava de ônibus e não podia me atrasar pro trabalho na sexta também. Mas eis que os portões se abrem e ai me volta uma bela e singela esperança.
Não demora muito, ela começa a cantar, seus músicos são incríveis. Eu, timidamente, me posto da metade para trás do público do show. Canto todas as músicas, num tom alto, vejo que poucos cantam, muitos se balançam. Aquilo começa a me encomodar. Porque show, para mim, só é show quando canto e danço até não dá mais.
Troquei de grupo de amigos antes da metade do show, só pra ver se eles correspondiam a minha vontade de voar lá pra perto do palco. Lembra quando eu disse que não gostava de tietagem? Então, a Roberta Sá conseguiu acabar com anos a fio que usei defendendo essa tese.
Não há como, ela tem um imã, é a única explicação. Além de uma super voz, uma roupa incrível, uma cabelo e um esmalte maravilhos, e um sapato belíssimo; Roberta Sá apresenta proezas que você só pode ver em poucos outros artistas. Ela é a simpatia personificada, ela canta olhando em seu olho (nessa hora quase tive um treco, ela cantando e olhando pra mim, e gesticulando, como se estivéssemos conversando). Sem falar no bis, momento no qual ela fica descalça no palco, sem nenhuma ostentação.
Incrivelmente linda!
São minhas últimas palavras sobre ela que só sabe nos fazer parar (e babar!)

Obs: a música que deixo pra vocês hoje é "Ah! Se eu vou", escrita por Lula Queiroga e interpretada por Roberta Sá. No vídeo, o vestido dela é a coisa mais perfeito, e o jeitinho de ela dançar é super meigo. Essa música foi um dos momentos auges do show no Porto. E eu não consegui parar de tietar, até seu tchau definitivo.

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