terça-feira, 5 de janeiro de 2010

sinta a liga.

Não que haja muita diferença entre tatuagem e mancha, mas pra ela aquela tatuagem era só inspiração. Olhava pra si como quem olha por dentro, latejando sentidos amaldiçoadamente mortos, retomando pedaços perdidos pelo organismo. Quereria assim viver, talvez, e por isso assim era ser. Nada demais, qualquer esteira com cigarrilhas já a deixava tão simplesmente bela, dificilmente você acreditaria. Ah, se visse. Se visse, nem iria querer tocar, tamanho o deslumbre. Desbunde o dela sair assim na rua, sem pano, sem tampa, sem mão tapando o sorriso. Era luz para qualquer rio, chama leve em neblina cinza.
E ela que só queria dizer que queria bem aquele rapaz, que tanto queria bem que nem o queria mais, para não ter que dizer que não, mas nem que sim. Não e sim são opostos distraídos que dizem que não, mas só sabem que sim: não servem para conviver, assim, grudados, dividindo espaço. E ela errava em querer só o incerto, entre o sim e o não, onde nem há nada, mas ela, teimosa, insistia em procurar, e até jurava encontrar uma ponta de não-sei-o-que, ou um rabisco de desenho sem coordenação.
Por querer esse bem tão bem, mas tão bem, nem nada de mal lhe via, e até caia bem, mas não via. E não ver é um pecado ainda maior do que acreditar que o talvez possa decidir o ir-não-ir da gente.

2 comentários:

Lívia Russo disse...

Não, de fato agente não decide... Senão tu estavas aqui, inclusive.

Priscila Milanez disse...

Adorei, Carolla. Principalmente, isso:" chama leve em neblina cinza."

bjos