quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Holly-day

Sempre quis parar em frente àquela sorveteria para admirar o pôr-do-sol daquele ângulo tão privilegiado, mas nunca conseguia, nunca podia parar e perder seu tempo com algo tão banal e tão igual de todo dia. Sua vida era constantemente ativa e inesperada, sem rotinas e sem caminhos semelhantes, cada dia era uma aventura em uma nova montanha-russa.
Aliás, numa montanha-russa mesmo ele nunca nem tinha ido, não tinha tempo para parques de diversão, tudo ali era muito riso, muito enjôo e muito medo misturado à adrenalina, e era sempre assim, e nada de sempre o atraía sequer uma vez. A correria que não o deixava admirar as novas flores plantadas naquele canteiro sem-graça da avenida central era a mesma correria que ele dizia fazê-lo muito bem, tão bem que nem tinha tempo mais para nada, conversas cada vez menores com quem fosse. Não importava o grau de proximidade, eram todos seus amigos, e amigos permaneceriam até o dia em que ele conseguisse parar para organizar na vida qual espaço pertencia a cada pessoa, qual era o pedaço que cabia a cada um na sua história. Mas esse dia nem nunca chegou, e nem que fosse possível chegar, ele não quereria assim. A graça estava toda na correria sem rotina que se iniciava às 6 horas da manhã e varava a madrugada do dia seguinte.
Amor nunca faltou, segundo ele, em todos os seus passos. E o que ele mais amava era a tal da correria mesmo, do sangue fervendo de tanto ter o que fazer. Amor aos outros ele não sabia explicar, sentia como supérfluo. Era tempo demais para gastar dizendo carícias, fazendo agrados. Aquilo não era para ele, definitivamente.
Correu tanto que parou, mas parou de estagnar e por lá ficou, parado, na avenida do meio, do meio termo, nem frio, nem quente. Talvez, morno. E o morno que não o satisfazia era justamente o clima daquela tarde de verão, em pleno domingo. Naquela rua á beira-mar, poucos ficaram para olhar. Afinal, o dia é correria para a maioria.
Atravessa, corre, sinal, carro e... Foi isso, foi aquilo, mas ninguém sabe dizer ao certo o que foi. Só uma coisa todos sabem: ah, que vida... E aquela não era para ele, definitivamente.

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