segunda-feira, 25 de julho de 2011

Coração de vidro.

essencial ouvir a música para que o texto faça sentido

Tudo que se desmoronou estava agora em suas mãos, quebrados, sim, mas urgentes, esperando uma ação. Ela não sabia o que fazer, o que dizer, pra quem ligar. Mas ela sentia que quanto mais apertava os cacos, mais se machucava. Não pelo fato de serem pontiagudos, pois sempre eram mesmo, mas porque eles feriam por dentro, sem sangue, a dor era profunda e, por conta disso, dilacerava tudo que aparentasse felicidade ou vida em si.
Não conseguia andar, sentia-se imobilizada por um sentimento único de perda. Perda esta que só enxergava ao olhar-se no espelho e apontar o dedo indicador para o próprio nariz, repetia repentina que não, que sim, que, enfim, já era.
Deixou que fosse a lucidez, que ficasse o mórbido, que ficasse o acaso, ao caso que se ficasse junto de si já era por demais sublime. Entre ela e si mesma havia um vidro, talvez um dos cacos da parte quebrada de si. Era isso que a fazia se evitar, que a fazia distante de si.
E, agora, enclausurada, fim da encruzilhada, via que estava só, por mais que gritasse por dentro aos quatro cantos que era amor e mais nada. Amor em demasia, sim, era isso. Doar-se nem sempre prevê toque e proximidade, no caso dela, só distância e mais e mais dor.
Da dor, que já estava cheia, resolveu se desfazer. Porém, dor não é assim que se manda embora, ela é persistente e bastante segura pra se dizer adeus, assim, de uma hora pra outra, ainda mais de uma vez por todas.
Ilusionista de si, visionária dos outros: nisso ela se tornou. Entre tropeços e acertos (bem menos que os primeiros), apreendeu que deveria conseguir seguir. Porque seguir não é coisa que se decide e se vai, precisa-se conseguir primeiro, para depois poder ir.
Não que tenha encontrado seu caminho, isso nem é possível e seria tamanha pretensão esperar que o destino fosse assim: tão delicado e firme. Apenas resolveu fingir que acertou pra ver se melhoravam as rosas na primavera e as folhas secas no outono. Se lhe perguntam como ia, dizia que bem. Antes afirmativas mentirosas que transparência desmedida (colocando-se como alvo de fracassos).
Por fim, aceitou que o que há de ser, há de ser, já que nunca sabemos mesmo o que teria sido se não fosse o agora como realmente o é.

"não é uma questão de ordem ou de moral
eu sei que eu posso até brincar o meu carnaval
mas meu coração é outro"
(Sérgio Sampaio)

Sofreguidão e alívio, se é que é possível!

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