domingo, 19 de agosto de 2012

Sobre a ausência.

Saiu de casa, acreditando que lhe faltava algo. Mesmo sem crer em sinais de trânsito, atravessou no verde e na faixa, queria segurança, achou que talvez fosse isso o que tanto parecia faltar. Já do outro lado da rua, percebeu que ainda lhe faltava aquilo. Um aquilo forte, criava um buraco imenso que partia, agora, do umbigo e ia até o pescoço. Como uma fome que vai corroendo os órgãos até que você ingira qualquer pedaço de pão. Resolveu comer, talvez pudesse ser isso também. Depois de saciada, pensou estar livre do buraco negro que se instaurara em seu corpo há alguns instantes, logo que trancara a porta de casa. Mas nem mesmo sem fome o vazio se dissipara.
Poderia ser muita falta, muita ausência. Entendeu que deveria voltar para casa e descansar jogada no sofá. Poderia ser que a falta sentida fosse a falta da ausência de cansaço. Os pés doíam, corpo moído, coluna cervical nem um pouco ereta. Agora, além do vazio, existia um peso nas costas incalculável. Definitivamente, precisava descansar. Não mais no sofá, mas, sim, na cama. Deitada, estirada e estática: assim ficara por mais ou menos duas longas horas, sem quase respirar - porque respirar também cansa um tanto.
Determinada de que aquele descanso parecia o bastante, tentou levantar. Tentar nem sempre é a melhor forma de conseguir. Resolveu se espreguiçar, estava convencida de que estalando os dedos dos pés estaria pronta para um recomeço. Estalou todos e retomou a tentativa por se retirar da estagnação que a cama depositara nela e que fazia questão de permanecer a depositar, ao que parecia.
Entravou lutas contra os lençóis até que, enfim, seus pés tocaram o chão e ela conseguiu se erguer. Olhou o relógio de cabeceira, estava atrasada por demais para pensar na falta - que, aliás, persistia. Lançou mão da bolsa e dos sapatos. Parecia que agora, sim, o dia começava. Não sem o vazio, mas começava.
Ao capturar suas chaves em cima da mesa da sala, ousou olhar para o céu - algo que ainda não havia feito desde que acordara.
- Ah, o guarda-chuva. Vai chover!

Nenhum comentário: