quarta-feira, 14 de outubro de 2015
Quando não dizer sufoca
Alguns alunos naturalmente me emocionam. Acabo de me despedir de um aluno desses. Um coração bom, um sorriso puro, mas uma solidão - ou angústia - profunda que eu nem sei explicar de onde consigo captar. Mas é forte. Difícil dizer, porque ele é tão encantador. Há 4 anos, parece, permanece no primeiro ano do ensino médio. Não é um aluno incapaz, mas fica sempre abaixo das perspectivas escolares - com as quais nem sempre concordo, mas que existem e, por vezes, massacram. Talvez, tenha sido um erro da escola reprova-lo tantas vezes repetidas. Hoje, ele abandonou as aulas, mas é tão generoso e sincero que veio se despedir, avisar o que iria fazer. Não consegui dizer muito, pedi para sentar ao meu lado e me contar o porquê daquela decisão. Ele também não conseguiu dizer mais do que eu, explicou com um singelo "não tem jeito, tem que ajudar lá em casa", e eu sangrei um tanto por dentro. As oportunidades estão longe de serem iguais para todos, mas ele é o tipo de aluno que mereceria uma trégua imediata em tamanha desigualdade. Eu torço por ele demais, talvez nem saiba o quanto o carinho é imenso, mas simplesmente é. Fico pensando que as nossas mãos, enquanto professores, encontram-se tão atadas que até o choro fica preso em uma situação como esta, até parecer se preocupar não se encaixa perfeitamente. Não chorei na frente dele, mas, quando saiu, deixei meus olhos marejarem, ali mesmo em sala de aula, e eles permanecem marejados até agora, não consigo contê-los. Fiz com que ele prometesse não parar definitivamente de estudar, que ano que vem ele entra para o supletivo pelo menos - também não acho que o ensino regular lhe renda mais algum fruto. Não saí aliviada dessa despedida. Acho, inclusive, que resta mais angústia do que alívio. Não o deixo partir com serenidade. Aliás, a cada dia duvido mais da serenidade se fazer possível na vida desse tanto de meninas e meninos com quem convivo diariamente. Só me resta mesmo a resistência cotidiana, é nela que encontro um único - mas também ínfimo - apoio para suportar todas as adversidades.
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