domingo, 13 de março de 2016

translúcida

Minha angústia é a lucidez. E junto com ela, talvez, a saudade. Durar além da conta só poderia dar nisso mesmo. 96 anos e 8 meses completo hoje. Já começo a regredir e contar minha idade como a de um bebê - em meses, dias, minutos, segredos. Não vejo a hora do retorno à grande placenta que é um caixão.
Não sei se escrevo corretamente e, de antemão, peço desculpa por qualquer equívoco gramatical ou ortográfico, não sei. A verdade é que, se comparada ao tempo que venho persistindo neste mundo, a escrita não faz muito que entrou em minha vida. Aprendi a ler e a escrever tardiamente, nem lembro bem o ano ou a ocasião, mas lembro bem de um caderno pequeno e bordado que foi onde comecei a desenrolar as primeiras letras.
Engraçado que comecei a escrever mesmo sobre a angústia, não sei se a mesma que utilizo para iniciar estas páginas, mas latente o mesmo tanto. Acho que possivelmente fui muito feliz, mas a angústia nunca saiu do meu lado, nem mesmo por um instante.
Neste momento, embarco em um avião e não entendo bem por que as pessoas se preocupam tanto em não levar minha opinião a sério. O avanço da idade, me parece, também é o motim para a invisibilidade.

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