quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sobre ser e estar.

E ela apenas abria livros como quem lê a bíblia, buscando versículos capazes de acalmar almas, acalentar feridas, trancar rancores. Buscava, sem cessar, frases que correspondessem aos seus sentimentos mais latentes. Quando não achava nada, em meio a sua biblioteca eterna de cinco livros, punha-se a escrever, sem parar, até que alcançasse o mais belo e híbrido texto-sentido.
O que mais não fazia sentido era o que ela mais almejava, caçava como um cão farejador, até que, enfim, alcançava e descansava, como uma criança quando enjoa do brinquedo já não tão mais novo. Queria ser princesa quando tinha lá seus oito anos, mas esses sonhos tolos, de menina que tem medo de noite silenciosa, ela deixou pelo caminho, como quem perde os sapatos pelo fato dos pés terem crescido.
Vivia a sua maneira! - repetia isso como um mantra. Entranhava em si músicas que diziam ser boas por aí. Decorava-as com tamanha facilidade, como músicos experientes que tocam sem partituras. Não prestava atenção às letras, assim como não prestava atenção ao caminho que agora tomara, longe de tudo, por se distrair com a borboleta desengonçada que cismou em tocar seu nariz e achar que ficaria por isso mesmo. Ninguém a havia tocado antes, não seria essa tal borboleta que quebraria esse rito.
E foi assim que se perdera, dizem que vive por entre as pedras, num bosque abandonado em que as pessoas não gostam de ir. Nada melhor para um fim, pelo menos para ela que era só isso: um lugar evitado por todos, menos por aquela borboleta.

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