quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sobre a sorte.

Chegou e sentou. Não disse nada. Nada além de 'bom dia', que é o que se fala quando se entra em um local em que não se estava. Resumia aquela manhã num sorriso breve e pouco aberto, com dentes amarelados de quem já havia fumado meia carteira de cigarros de filtro vermelho. Parecia que todos a olhavam, ali sentada, inerte, com as pernas cruzadas, a direita sobre a esquerda, como de costume, até que surgisse a primeira câimbra para subverter a ordem. Ficaria ali o dia inteiro, olhando o fixo, o quadriculado dos pisos esverdeados. Naquela sala de espera, que fazia, a cada minuto, jus ao nome, ela pensava em quase nada. Fazia um esforço para se lembrar da última vez que tinha se encaminhado ao médico, se não por aquele mesmo motivo, que pelo menos por outro qualquer. Não adiantava, não conseguia captar a lembrança numa memória tão frouxa como a sua.
Levantou aflita e pegou um copo d'água, que nem era seu intuito, mas como havia levantado num rompante precisava demonstrar algum motivo para aquilo, já que tantas pessoas lhe lançavam olhares ameaçadores por todos os longos quinze minutos que já estava permanecendo ali.
Ali: ela e mais cinco pessoas esperavam um atendimento que muito mais parecia um suplício tamanha a demora que estava expressa no rosto de todos. Mas estava decida a encarar, bebeu a água em goles pequenos e espaçados. Não arriscou perguntar à recepcionista quanto tempo mais haveria de esperar. Resolveu ser otimista, porque sorte é coisa que se pratica, até ficar tinindo.

(continua...)

Nenhum comentário: