segunda-feira, 1 de julho de 2013

Sobre o preciso

Toma banho e diz "sim, meu amor, eu aceito". Mas não parecia estar apta a dar continuidade a nada que não fosse seu próprio sono.
Chegou o café sem açúcar, e ela só pensava nos mais cinco minutinhos de direito que qualquer ser humano deve ter. Passou das dez e ainda nada, nada além de um suspiro ultrapassado pelo som do ventilador no volume dois.
Outro suspiro e parecia embebida em preguiça acumulada durante dias à fio, tanto que nem esboçava se importar com o atraso. Quando a mente desliga de qualquer tic-tac imediato.
Levanta, pega o café basicamente frio, mas engole e diz que sim pra mais, meu amor. Vem mais, mas nunca o bastante. O que antes era estranho agora é apenas ritmo. Cafeína demais.
Corre, acelera. Encerra, sinal fechado. Nem tudo é sincronia quando se está atrasada, entende. Aproveita para encarar o retrovisor, nada demais, o de sempre.
Lembrou do enjoo do dia anterior, e era de novo. Respira, respira. Passa como qualquer carro na via contrária, é só concentrar, pensa.
Só mais duas quadras, um encontro de vaga e dois lances de escada até a porta do banheiro. Era muito, mas devia ser o bastante. Acostumava andar calculando. Riscos, perdas, danos. Tudo numa planilha mental.
A administração, assim como a contabilidade, não a deixava nem mesmo em sonho. Que tristeza! Calculista, e a frieza ela deixava para aqueles dias de meados de inverno.
Chegou, entrou, sentou, respira, respira. Nada de enjoo, tudo indica que acabou. Por precaução, permanece por ali, respira, respira. O enjoo, danado, vem e vai, como os passos falsos de uma quadrilha de festa junina.
Só pode ser o café, maldito café! Já havia cortado o açúcar por provocar enxaqueca, mas os cortes nunca cessam, os riscos só aumentam junto com os danos. É de enlouquecer, já estava cansada só de pensar em sair do banheiro e encarar de frente o dia em pedaços.

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