segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Retrate-se.

Há fotografias que a gente só consegue mostrar pro escuro, era também assim com ela. De quase nenhum lugar tinha ciência, mas almejava cada canto do mundo no olhar pela lente. Era um excesso de poses, de luzes, de focos. Não parecia dar conta de um tanto tão estático que se apresentava em papel e em cores a sua frente, à meia luz, todas as noites. Mas testava...  A fotografia? Nem hobby, nem profissão. Fazia escondido de tudo, porque era modismo demais, para ela, ficar publicando fotos, como se estivesse publicando um pouquinho da própria vida em redes sociais. - Tolices!, repetia. 
Um mundo inteiramente desconhecido a esperava todas as manhãs, cada vez por um caminho diferente. Gostava de arriscar novos passos, novas ruas. - Curto bastante o inesperado!, ela dizia. O que significava apenas que havia um medo denso de ir e vir pelo mesmo, encontrar o mesmo, se deparar com o mesmo. Mesmos: caminhos, pessoas, muros, grades, lojas, calçadas.
O medo a atraia mais para o não. Negava gostar de beatles porque era por demais acessível, se gabava por gostar de jazz contemporâneo. Só não admitia ser do contra porque do contra também lhe parecia comum para ser. Mas nutria um amor imenso por paixões, seus olhos incontrolavelmente brilhavam a todo instante, sem saber que olhos que brilham são fáceis demais de se encontrar por aí.

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