terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

do ir e vir e ir de vez

Tentei selar a casa. Gravar tudo, um por um dos cômodos. Um filme hermético. Intocável era o clima por ali. Um adeus sufocado pelas paredes brancas - talvez nem tanto mais - e espessas. Eu gritava por dentro o que gritei por tantos meses da sala pro quarto, da cozinha pro banheiro dos fundos. Poucas coisas eu calei por ali. Quase vinte e quatro meses sendo muito de mim e bem pouco de mais ninguém. Felizes quase setecentos e trinta dias ininterruptos, por mais que fosse ausente por dois ou três noites seguidas. Da vista da janela do quarto, fotografei todos os ângulos possíveis com todos os olhares inimagináveis. Dos vizinhos, guardei as gritarias de cima, as preocupações com os de baixo, a solicitude dos da esquerda e o conservadorismo insistente da senhorinha do lado direito - e tinha de ser da direita mesmo, bem cabível -, os nomes mesmo não guardei, achei tão descartáveis que esqueci. Aliás, esqueci muitas abreviações e poucos aborrecimentos que tive ali, naqueles cento e vinte e alguns metros quadrados. Aprendi com tudo: mobília, infiltração, barata voadora, cônjuges e muita porta aberta. Meu lar, futuro lar, vai ser justinho assim composto: diverso, medroso, aconchegante e alegre. Há muito o que compor, claro, mas coisa demais já foi composta - e não será descartada, nem que eu queira, mas não quero mesmo.


Um comentário:

Anônimo disse...

escreva sempre.